Seja o que for, que seja com amor

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Escolher o caminho profissional não é uma decisão fácil para grande parte dos jovens. Pressionados pelo mercado de trabalho volátil, pelos pais, pelos estereótipos, analisam o cada o cada vez mais alargado leque de cursos, alguns com designações atrativas, indiciadoras de estatuto, e tentam fazer a escola acertada. Uma escolha que lhes proporcione uma vida boa (seja lá o que isso significa).

O que muitas vezes têm dificuldade em perceber é que nenhum curso é garantia de uma vida boa. Pode até ser garantia de estatuto social, dinheiro, mas nunca de bem-estar. O que fazemos com ele é, isso sim, o catalisador dessa vida que queremos boa.

Ocorre-me a história de um ex-aluno a frequentar o ensino secundário em horário pós-laboral, que me marcou e moldou, ao longo dos anos, a forma como me relaciono com os outros. O Paulo era coveiro (designação anacrónica, que fará fugir a sete pés da profissão, não indicativa de estatuto social). Assim, de repente, pode parecer uma profissão que pouca diferença faz na vida dos outros. Quando muito fará a diferença na morte, pois sem coveiros a alternativa seria a cremação, pouco aceite ainda para grande parte da população.

É uma profissão sem grandes obstáculos nas entrevistas de emprego, pois não precisa de grandes qualificações, nem grandes competências de comunicação, apenas força física, dirão alguns.

Mas o Paulo falava com tanto entusiasmo do seu trabalho, que se percebia que era feliz no que fazia e que soube encontrar o caminho da felicidade, que todos ansiamos. No cemitério onde trabalhava, mais do que tratar dos mortos, apoiava os vivos, aqueles que, fragilizados pela perda, viam nele um apoio. Esperavam um abraço, a palavra amiga, o sorriso que ajuda a preencher o vazio da alma. Era assim que o Paulo fazia a diferença na vida dos vivos, quando todos esperam que o coveiro se limite a tratar dos mortos. Os utentes começaram a aparecer com assiduidade no cemitério, não apenas para pôr uma flor na campa dos que partiram, mas também para regar a espírito.

Tão importante como o que fazer com o que sei é o que fazer com o que sou. O Paulo soube fazer a diferença na vida dos outros, no desempenho de uma profissão que a maior parte das pessoas não quer.

Não há profissões mais ou menos importantes. Mas há pessoas que são muito importantes no exercício das suas profissões, sejam elas quais forem.

Cidália Neto

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